
Crescimento da Sífilis no Brasil: Uma Questão de Saúde Pública
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde em outubro de 2023 revelam um crescimento alarmante da sífilis no Brasil, que acompanha uma tendência global. Este aumento é especialmente preocupante entre gestantes, com 810.246 casos registrados entre 2005 e junho de 2025. A distribuição geográfica dos diagnósticos mostra que a Região Sudeste concentra 45,7% dos casos, seguida pelo Nordeste (21,1%), Sul (14,4%), Norte (10,2%) e Centro-Oeste (8,6%). A taxa nacional de detecção atingiu 35,4 casos por mil nascidos vivos em 2024, indicando um aumento da transmissão vertical, quando a infecção é transmitida da mãe para o bebê.
A Luta Contra a Sífilis Congênita
A ginecologista Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez, integrante da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo, destaca que a luta para controlar a sífilis congênita no Brasil já dura décadas. “Historicamente, sempre enfrentamos problemas com a sífilis no Brasil. A redução significativa dos casos ainda não foi alcançada ao longo dos anos”, afirma.
Embora a sífilis seja uma infecção mais fácil de diagnosticar e tratar em comparação com outras doenças como o HIV, a redução dos casos entre mulheres jovens e recém-nascidos ainda não foi efetiva. A médica salienta que isso representa uma séria preocupação, principalmente para a população em idade reprodutiva, resultando em um aumento na transmissão vertical.
Subdiagnóstico e Interpretação de Exames
O subdiagnóstico da sífilis é um desafio constante. O teste VDRL (Venereal Disease Research Laboratory), amplamente utilizado no Brasil, não é específico para treponema, mas é eficaz para indicar infecção e monitorar tratamento. No entanto, muitos profissionais de saúde cometem o erro de considerar um teste treponêmico positivo e um não treponêmico negativo como uma cicatriz, deixando de tratar a infecção.
“Esse erro é comum. Muitas gestantes apresentam resultados não treponêmicos positivos ou com títulos baixos, o que perpetua o ciclo de infecção, afetando tanto o parceiro sexual quanto o feto”, explica Helaine. A interpretação inadequada da sorologia durante o pré-natal resulta em crianças nascendo com sífilis congênita. Além disso, o não tratamento dos parceiros sexuais é outro fator que contribui para a disseminação da doença.
A Importância da Educação em Saúde
A Febrasgo tem promovido cursos voltados para a prevenção e tratamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) entre profissionais de saúde. Helaine também participa de um grupo do Ministério da Saúde que desenvolve diretrizes para a transmissão vertical de sífilis, HIV e hepatites virais. O acesso a informações e protocolos clínicos é crucial para melhorar o diagnóstico e tratamento, uma vez que a sífilis congênita é um importante indicador da qualidade do pré-natal.
Populações em Risco
A faixa etária mais afetada pela sífilis e HIV no Brasil é entre 15 e 25 anos, mas a terceira idade também apresenta aumento nas infecções. A redução do medo em relação às ISTs e a crescente vida sexual ativa na terceira idade, impulsionada pelo uso de medicamentos como o Viagra, têm contribuído para o aumento de casos. “A falta de receio de gravidez entre os mais velhos também leva ao abandono dos métodos de barreira”, observa a especialista.
Mais de 80% das mulheres grávidas diagnosticadas com sífilis não apresentam sintomas durante a gestação, o que torna o diagnóstico ainda mais difícil. A infecção pode ser assintomática, e se os exames não forem realizados corretamente, a doença pode evoluir e afetar o feto.
Os Riscos da Sífilis Não Tratada
Os homens, em sua maioria, também apresentam a forma assintomática da sífilis. Quando uma pessoa entra em contato com o treponema, pode desenvolver um cancro genital, que muitas vezes não é percebido. Para as mulheres, as lesões podem estar localizadas no fundo da vagina ou no colo do útero, passando despercebidas.
A falta de tratamento pode levar à transmissão da infecção, mesmo que a lesão inicial desapareça. A sífilis pode ter uma fase latente onde o indivíduo não apresenta sintomas, mas ainda é capaz de transmitir a doença. Os exames laboratoriais podem não detectar a infecção em suas fases iniciais, complicando ainda mais o diagnóstico.
A Necessidade de Prevenção Durante Festas
Com a aproximação do carnaval, a ginecologista alerta para o aumento do risco de contágio por sífilis, uma vez que as práticas sexuais seguras são frequentemente negligenciadas durante as festividades. O uso de métodos de barreira é essencial para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis.
Atualmente, existe uma opção de prevenção para o HIV chamada PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), que é um medicamento antirretroviral. Quando tomado corretamente, reduz o risco de infecção em mais de 90% e está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. A falta de tratamento da sífilis pode levar à fase secundária da doença, que é caracterizada por lesões cutâneas e um alto risco de transmissão para o feto em gestantes.
Compreender os riscos da sífilis e a importância de um diagnóstico precoce é fundamental para a saúde pública. A prevenção e a educação em saúde são as principais ferramentas para combater essa infecção que continua a crescer no país.
Observação Importante: As informações aqui apresentadas não substituem a avaliação ou o acompanhamento profissional. Sempre consulte um médico ou especialista em saúde para orientações personalizadas.

